Aprender muitas línguas enche a memória de palavras, em vez de fatos e de idéias, quando essa faculdade não pode receber no homem senão uma certa quantidade limitada de conteúdo. O fato de aprender muitas línguas é prejudicial ainda porque produz a ilusão de ter capacidades e efetivamente até dá certa aparência enganosa nas relações sociais; é prejudicial ainda indiretamente por se apor à aquisição de conhecimentos fundamentais e a propósito de merecer a consideração das pessoas por meios leais. Finalmente, ela é o machado que corta pela raiz o sentimento lingüístico mais delicado no âmbito da língua materna: este sofre danos irremediáveis e é levado à ruína. Os dois povos que produziram os maiores estilistas, os gregos e os franceses, não aprendiam línguas estrangeiras. (Nietzsche, em Humano, Demasiado Humano. O filósofo iniciou seus estudos como filólogo)